Capitulo 2

em 11 de abril de 2015

- Então? O que se passa? Estás muito calada hoje. – Perguntou-me Mary, quando saímos da primeira aula. – Discutiste outra vez com a tua mãe, foi?
Dirigi-mo-nos aos cacifos. Respirei fundo, abrindo o meu.
- Porque é que tu me conheces tão bem? – Murmurei. Ela sorriu, em resposta. – Hoje fazem dois anos que o meu pai morreu, e ela nem se lembrou, e ainda teve a lata de me falar sobre a festa desta noite. Mais uma a que ela me quer arrastar. – Contei, enquanto colocava os livros da primeira aula no cacifo.
Ela colocou uma mão no meu ombro, apertando-o ligeiramente e, quando ela ia dizer algo, alguém clamou:
- Kate!
Olho para traz.
- Eric! Olá!
Ele sorriu.
- Está tudo bem? Parecias triste há pouco, na aula.
- Ah! - Murmurei, trocando um olhar com a Mary. – Sim, só estou a ter um dia menos bom.
- Hum… - Ele olhou-me com ar de desconfiado. – Tens alguma coisa combinada para depois das aulas? – Perguntou-me, mudando de assunto.
- Não, porquê? – Respondi, trocando um olhar com Mary, de novo.
- É que estou com umas dúvidas na matéria de Matemática. Achas que nos podíamos encontrar, depois das aulas, para me ajudares?
- Ah! Claro. A que horas?
Vi um sorriso formar-se no seu rosto.
- Às três, no Mario’s?
- Ok. Lá estarei. – Sorri.
Ele continuava a sorrir.
De repente, vejo o seu rosto aproximar-se do meu e a deixar um beijo na minha face. Começo a sentir o meu coração a bater muito rapidamente.
- Então, até logo!
- Até logo! – Murmuro, em resposta.
Quando ele se afastou, levei a mão ao rosto, acariciando com a ponta dos dedos, o sítio onde ele tinha deixado o beijo. O meu coração continuava acelerado.
- Uau! O que foi isto? – Ouvi Mary dizer. – Kate?
- Hã? O que foi? – Murmurei, acordando daquele pequeno “transe”.
- Ui! Não me digas que já estás apanhadinha por ele?
- O quê? Por quem? – Perguntei, fechando o cacifo.
- Pelo Eric, Kate!
- Áh! Não, claro que não.
- Pois, mas parece. Ficaste toda derretida, quando ele te deu aquele beijo.
- Não fiquei nada.
Ela riu-se.
- Então porque estás a corar?
- Oh! Porque… - Nesse momento, o toque de entrada suou, salvando-me das explicações. – Olha, vamos mas é para a aula. – Proferi, começando a caminhar.
- Ok, mas não penses que esta conversa fica por aqui.
- Sim, mamã… - Murmurei, sorrindo e revirando os olhos.

Estacionei a scooter à frente do Mario’s, do outro lado da estrada, por volta das 15h05. A esplanada estava cheia. Apesar de se sentir uma aragem gelada na rua, o Sol resplandecia, quente e acolhedor.
Atravessei a rua e galguei o pequeno gradeamento de ferro que protegia a esplanada. Entrei dentro do estabelecimento e olhei em volta, em busca de Eric. Caminhei até ao balcão, onde se encontrava Mario, o dono do negócio ao qual dera o seu nome; um homem nos seus quarenta e poucos anos, com uns quilinhos a mais e um bigode negro, da qual ele se orgulhava muito.
- Olá, Mário! – Cumprimentei-o, sorrindo. – Por acaso não sabe se o Eric já está por aqui?
- Sim, sim! Chegou á uns minutos. Está ali, naquela mesa do canto. – Respondeu-me, sorrindo, e apontou para o sitio que estava a falar.
Olhei nessa direção. Lá estava ele, sentado numa pequena mesa quadrada, de madeira, encostada à parede de tijolo, concentrado nos livros.
- Obrigada. – Disse eu, sorrido.
- De nada, querida. Olha, queres alguma coisa?
- Hum… Pode ser um café, obrigada.
- Está bem! Já vou levar.
Assenti e caminhei até àquela mesa, parando em frente a ele.
- Olá! – Murmurei.
Ele olhou para cima e o seu rosto pareceu iluminar-se. Eu sorri.
- Oh! Olá! Senta-te.
Sentei-me, retirando os livros de matemática da mala.
- Estou muito atrasada? – Perguntei.
- Não, eu também só cheguei à uns minutos. – Respondeu ele, dando uma olhadela ao relógio.
Eu assenti.
Passado uns minutos, o meu café chegou, a fumegar numa chávena de chá redonda.
- Então? Em que tens duvidas? – Perguntei, bebericando um pouco do meu café.
- Ah! Bem, na matéria do T.P.C., não percebo nada. – Respondeu-me, coçando a cabeça.
- Ok. Então vamos fazê-lo em conjunto, para ser mais fácil.
Ele assentiu, mirando-me com os olhos a brilhar.
- Ora, então vamos lá. – Murmurei, abrindo o caderno e sorrindo mais uma vez.
Uma hora e meia depois, fechámos os livros e decidimos pedir alguma coisa para comer. Um prato de crepes, enrolados em triângulo, recheados com compota de morango, foi o que escolhemos, para partilhar.
- Então, vais contar-me o que tinhas esta manhã? – Perguntou-me ele, a certa altura.
- Hum… - Murmurei, limpando os lábios com o guardanapo.
- Bem, se não quiseres contar não faz mal, estás no teu direito. – Apressou-se a dizer, encostando-se na cadeira.
- Não, eu quero contar. – Proferi, colocando a mão no seu antebraço, retirando-a rapidamente a seguir.
- Ok. – Ele assentiu, recostando-se na cadeira.
Olhei-o nos olhos. Eram tão bonitos e…sinceros e acolhedores, estranhamente acolhedores. Fizeram-me sentir que podia contar-lhe tudo… E contei.
A meio da história ele arrastou a cadeira para mais perto de mim, segurando a minha mão. Quando acabei de falar, deixei escapar uma lágrima, imediatamente limpa pelo dedo gordo de Eric.
- Desculpa. Murmurou, deixando ficar a mão no meu rosto.
- Porquê? – Perguntei, olhando-o nos olhos.
- Porque não estive lá quando mais precisaste, porque te ignorei e desprezei, em vez de te ajudar.
- Não, tu não me desprezaste, só de olhares para mim sem ser com pena, já me estavas a ajudar.
- O quê?
- Ao contrário de todos os que me ignoravam, tu não me olhavas com pena, só me transmitias força, era como se me estivesses a dizer que compreendias o que eu estava a sentir.
- A sério?
Eu assenti. Um pequeno sorriso apareceu nos seus lábios. A sua mão continuava no meu rosto. Vi os seus olhos baixarem para os meus lábios. Entreabri os lábios, suspirando ligeiramente. O seu rosto ia aproximando-se, mas, quando estava quase a beijar-me, o meu telemóvel começa a tocar. Eu baixo a cabeça… E ele encosta a sua à minha.
Tiro o telemóvel da mala e olho para o ecrã. “Tio Martin”.
- Ah! Importaste que eu atenda? – Pergunto, apontando para o telemóvel.
- Não, claro que não. Estás à vontade. – Respondeu-me Eric, que já se encontrava no seu lugar original.
Assenti, deslizando o botão verde para a direita e colocando o telemóvel no ouvido.
- Olá, tio!
- “Olá, Katie!”
Eu sorri.
- “Como estás, querida?”
- Bem, dentro dos possíveis.
- “Hum… Olha, cheguei agora ao cemitério, porque não vens ter comigo, para falarmos?”
- Mas tu estás na vila?
- “Sim, cheguei na hora do almoço. Então? Vens ter comigo ou não?”
- Ah! Sim, claro. Estou aí em 15 minutos.
- “Está bem! Então, até já!”
- Até já, tio!
- Era o irmão do teu pai? – Perguntou-me Eric, assim que desliguei.
- Não, era o melhor amigo e um grande amigo para a família. Ajudou-me muito, quando o meu pai morreu. – Guardei o telemóvel na mala, assim como os livros. – Bem, tenho de ir andando. - Anunciei, levantando-me.
Ele levanta-se também.
- Obrigada por me teres ouvido. – Disse eu.
- Eu é que agradeço, por teres confiado em mim. – Respondeu ele.
Eu sorri.
Por momentos, congelámos, ali, os dois, a olhar-nos, profundamente, até que eu, por fim, “acordo”.
- Bem, tenho mesmo de ir. – Anuncio, mais uma vez, ajeitando a mala no meu ombro. – Até amanhã!



Para quem ainda não leu: Capitulo 1.

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